As doenças da
reprodução possuem peso importante nos índices de natalidade, taxa de prenhez,
retorno ao cio, natimortos, entre outros, ou seja, inúmeros prejuízos.
Várias são as
enfermidades reprodutivas que acometem os bovinos, porém, o aborto causa maior
impacto, mas não é a enfermidade que causa maior perda.
O aborto em bovinos
ocorre nos diversos estágios gestacionais e possui diversas causas, de modo que
é fundamental o seu diagnóstico. As causas principais são a brucelose,
leptospirose, campilobacteriose, complexo herpes vírus, trichomonose, diarréia
viral bovina, intoxicações, nutricionais, de manejo e outras desconhecidas.
BRUCELOSE
A suspeita da
ocorrência de brucelose em um rebanho, geralmente está associada aos abortos no
terço final de gestação, sendo uma enfermidade que afeta várias espécies de
animais domésticos e silvestres.
Acomete bovinos de
todas as idades e de ambos os sexos, afetando principalmente animais sexualmente
maduros, causando sérios prejuízos devido a abortos, retenções de placenta,
metrites, sub-fertilidade e até infertilidade.
Portanto, quanto maior
o número de vacas infectadas (que abortarem ou parirem em uma determinada
área), maior o risco de exposição de outros animais do rebanho. É importante
fazer o diagnóstico das vacas infectadas e sua remoção dos pastos maternidade
antes da parição. Assim, o estágio de gestação e parição, a remoção dos animais
infectados, seguidos de vacinação das bezerras (entre 3 e 5 meses), constituem
importantes detalhes na forma de manejo.
A brucelose (uma das
doenças infecto-contagiosas com maior destaque na esfera reprodutiva) tem como
principal via de contaminação, a digestiva; por água, alimentos, pastos
contaminados com restos de aborto, placentas, sangue e líquidos contaminados
(proveniente de abortos e partos de vacas e novilhas brucélicas).
A transmissão pela
monta por touros infectados também pode ocorrer, mas em menor proporção que a
digestiva.
A principal característica
da brucelose é ser uma doença que afeta os órgãos da reprodução. Através da
inseminacaoção também poderia ocorrer contaminação, pois a "Brucella
abortus" (agente causador) resiste ao congelamento e ao descongelamento
juntamente com o sêmen, mas, o controle sanitário do sêmen envasado nas
centrais de congelamento elimina esta possibilidade pois somente reprodutores
isentos da enfermidade, entre outras, é que devem ser congelados.
Não podemos esquecer
que a brucelose causa sérios danos também aos touros através de orquites e
epididimites uni ou bilaterais, podendo levá-los a sub-fertilidade e até mesmo
à esterilidade.
Quando os touros se
recuperam da enfermidade, podem tornar-se disseminadores, se seu sêmen for
coletado sem diagnóstico prévio, e utilizado em programas de Inseminação
Artificial.
A introdução de
animais infectados, em rebanhos sadios é o caminho de entrada da brucelose na
propriedade, mas a manutenção destes animais, é pior ainda (pela propagação
entre o rebanho).
Com a doença surgem os
abortos, partos prematuros, retenção de placenta, endometrites, orquites,
baixando, portanto, a eficiência reprodutiva do rebanho.
A principal
característica é o aborto que ocorre a partir do quinto mês de gestação,
geralmente acompanhado por retenção de placenta e endometrite.
A vacinação com a
vacina B19 (fêmeas entre 3 e 5 meses), geralmente é eficiente para prevenir o
aborto, além de aumentar a resistência à infecção, mas não imuniza totalmente o
rebanho e tampouco possui efeito curativo.
A percentagem de aborto
na primeira gestação de novilhas brucélicas não vacinadas é de aproximadamente
65-70%; já na segunda gestação cai para 15-20%; após duas gestações
dificilmente acontece o aborto, mas, aí é que reside o problema, pois estas
fêmeas vão parir normalmente. E, a cada parição haverá nova contaminação dos
pastos, devendo estas fêmeas serem descartadas logo após o diagnóstico
positivo, que ocorre através da coleta de sangue e exames laboratoriais.
Nos rebanhos onde as
fêmeas de reposição são basicamente obtidas através de compras indiscriminadas
de animais jovens ou maduros sexualmente, o índice de animais positivos e
abortos tende a ser elevado, disseminando rapidamente a doença.
A vacina contra a
brucelose, com a vacina B19, deve ser feita por Médico Veterinário, sendo que
este deve tomar os devidos cuidados para não se infectarem, uma vez que ela é
feita com vírus vivo, apenas atenuado. Devem ser vacinados apenas as fêmeas com
idade entre 3 e 5 meses, e no momento da vacina , identificar estes animais com
marca a fogo no lado esquerdo da cara.
Exames periódicos de
amostragens do rebanho devem ser realizados para se ter uma idéia da evolução
da enfermidade na propriedade.
Os animais vacinados
na época certa, possuem reação "falso positiva" até aproximadamente 30
meses, pelo método de soro-aglutinação rápida em placa (o mais usado pelo seu
baixo custo, e que nos aponta resultados muito incertos).
Os animais que, por
erro de manejo não foram vacinados, quando do exame não devem reagir, a menos
que já sejam "verdadeiros positivos". Daí a necessidade da marca na
cara, para diferenciar os resultados de soro-aglutinação.
Animais vacinados
tardiamente podem ser ao longo de sua vida "falsos positivos" pois
sempre que se realizar o exame, haverá reação positiva.
Nestas situações, deve
realizar-se outros tipos de exame que diferenciam reação vacinal de positivos.
O diagnóstico
realizado a partir de coleta de material (sangue) próximo ao parto (2 a 4
semanas antes ou depois) implicará em significativo aumento de resultado falso
negativo.
Testes de fixação de
complemento, rosa de bengala, Elisa, e outros, podem ser usados como
diagnósticos mais precisos, mas deve-se levar em conta o custo de tais exames.
É também problema de
saúde humana, pois o homem pode contrair a enfermidade (zoonose) através de
alimentos e água contaminados pelo contato com fetos abortados, urina, fezes,
placenta e carcaças contaminadas, como ainda também pela ingestão de leite não
pasteurizado e do queijo, podendo causar vários distúrbios, inclusive a esterilidade.
As medidas de controle
são afetadas por uma variedade de fatores, mas através de esforço conjunto,
entre Veterinários, proprietários e laboratórios (através de técnicas de
diagnóstico confiáveis e viáveis), pode-se estabelecer critérios e medidas de
manejo, assim como a vacinação, entre outras, para melhor fazer o controle ou
erradicação da brucelose.
LEPTOSPIROSE
Causada por diversos
sorovares da bactéria do gênero Leptospira.
A leptospirose afeta
animais e humanos, causando, principalmente, perdas por abortos em bovinos além
de infecções disseminadas pelo organismo. A transmissão ocorre através da
urina, parto, leite, abortos, mas principalmente através de roedores e animais
silvestres infectados.
A enfermidade
apresenta-se geralmente de forma subclínica (sem sintomas facilmente
detectáveis), particularmente em animais não lactantes e não gestantes.
Manifesta-se clinicamente através de retorno ao cio (aborto precoce- o feto se
mostra autolisado (destruído-desmanchado) indicando que houve morte algum tempo
antes do aborto), queda na produção leiteira, mastites, natimortos, fetos
prematuros e/ou fracos, subfertilidade ou infertilidade decorrentes de
complicações.
O diagnóstico é
realizado de forma diferencial com outras formas de aborto, além de exames
laboratoriais (principalmente da urina), dados clínicos e epidemiológicos.
O tratamento através
de estreptomicina visa impedir a septicemia (disseminação por todo o
organismo), consequentemente controlando a contaminação do ambiente.
A vacinação de todos
os animais (em rebanhos de incidência alta) deve iniciar em todos os bezerros
de 4 a 6 meses de idade, seguidas por vacinações anuais (sempre com vacinas que
abrangem o maior grupo de leptospiras.). A primovacinação (1ª vez) precisa de
um reforço com 3-4 semanas de intervalo.
Como vacinação
estratégica, pode ser realizada 1 (um) mês antes da estação reprodut
IBR-IPV
Rinotraqueíte
infecciosa bovina (IBR) e Vulvovaginite pustular (IPV) fazem parte do complexo
Herpesvírus bovino, causadas pelo HVB tipo-1, responsáveis por abortos entre
outras enfermidades. O HVB pode produzir uma variedade de manifestações
clínicas como a mastite (inflamação do úbere), conjuntivite (inflamação da
conjuntiva), balanopostite (inflamação da glande e do prepúcio), doenças estas
que podem ocorrer em um mesmo surto, com animais distintos.
A IBR é a forma
respiratória, ocasionando febre e lesões de transtorno nas vias superiores do
animal, com quadros respiratórios graves (as vezes) em animais jovens.
A IPV é uma infecção
da mucosa vaginal e da vulva que manifesta-se por edema, secreção com exsudato,
pústulas de conteúdo mucopurulento, transtorno no ato da micção, endometrites,
repetições de cio e infertilidade temporária por período igual ou superior a 60
dias, quando retorna o ciclo estral normal e fértil.
A infecção nos touros
possui caráter importantíssimo na disseminação da enfermidade através da
cópula, com lesões no pênis e prepúcio, além do sêmen contaminado, os touros
transmitem, a cada monta, o vírus às fêmeas sadias.
A Inseminação
Artificial pode transmitir a enfermidade se o sêmen estiver contaminado.
O aborto (seguido de
retenção de placenta) ocorre normalmente, no terço final da gestação, onde
associados a este, estão os sinais clínicos de conjuntivite, rinotraqueíte,
vulvovaginite, ou ainda, isentos dos mesmos.
Uma vez diagnosticada
a enfermidade devemos proceder a vacinação dos que ainda são jovens e repetindo
a vacinação anualmente para manter a imunidade. Para fêmeas adultas, a
vacinação deve acontecer no início da estação reprodutiva.
BVD
A Diarréia Viral
Bovina (do gênero pestivirus) é um complexo de doenças associadas com a
infecção pelo vírus da BVD que diminui a imunidade. Virose também conhecida por
causar desordens reprodutivas, sendo que a infecção fetal (transplacentária)
pode levar à morte embrionária, ou até defeitos congênitos (nascidos com o
indivíduo, como a microencefalia, hidrocefalia, hipoplasia cerebral, defeitos
oculares), surtos de diarréia, abortos, entre outros.
A infecção com o vírus
da BVDV ocorre através das vias nasal ou oral, podendo ocasionar a morte do
animal (jovem ou adulto) e o nascimento de animais pouco desenvolvidos que
podem tornar-se portadores da enfermidade.
Os animais infectados
(com a introdução no rebanho de animais comprados, principalmente) liberam
continuamente o vírus através de suas secreções e fluídos corporais,
transmitindo lentamente a infecção entre os bovinos, disseminando primeiramente
os animais mais próximos, de forma que a identificação e o isolamento dos
animais por 3 semanas, diminuem as chances de um surto de BVDV.
O sinal clínico de
aborto é o mais difícil para se diagnosticar, o que pode ocorrer semanas após a
instalação do vírus em animais vacinados ou não e, que às vezes, não tenham
demonstrado outros sinais clínicos da enfermidade, além da necessidade do
diagnóstico diferencial das outras causas de aborto.
O controle pode ser
efetuado através de vacinas inativadas (seguindo o esquema do fabricante),
geralmente associadas a outros agentes infecciosos como a parainfluenza. Como
vacinação, pode ser realizada em animais de 8 a 12 meses e estrategicamente 1
(um) mês antes da estação reprodutiva.
TRICHOMONOSE
É doença infecciosa e
sexualmente transmitida, causada pelo Trichomonas foetus que
afeta fêmeas e machos em idade reprodutiva, causando morte embrionária, aborto,
endometrites, piometras, ou fetos macerados, como conseqüências diretas, pois o
maior prejuízo está na diminuição de nascimentos e na demora do estabelecimento
da prenhez, como forma indireta.
A principal via de
transmissão acontece durante a cópula (monta) onde o macho infectado contamina
a fêmea ou é contaminado por esta, ou ainda, através da Inseminação Artificial
com sêmen contaminado.
O aborto pode ocorrer
normalmente até o quarto mês de gestação, mas a característica mais marcante é
o grande número de repetições de cio, ciclos estrais irregulares, baixo índice
de concepção, corrimentos vaginais com fluído claro ou amarelado.
O tratamento das
fêmeas é praticamente ineficaz e desnecessário, pois a maioria destas
recupera-se após um descanso sexual. Prostaglandinas podem ser usadas no
sentido de fazer uma "limpeza" do útero e regularizar o ciclo estral.
Os machos
contaminados, com idade superior a 5 ou 6 anos devem ser descartados, pois
geralmente tornam-se portadores disseminando a doença.
Vacinas inativadas podem
ser usadas em touros jovens para evitar a propagação da enfermidade, mas o
tratamento mais eficaz para as fêmeas é o uso da Inseminação Artificial com
sêmen de reprodutores isentos da enfermidade, ou o repouso sexual por mais de
90-100 dias, o que economicamente, não é interessante.
CAMPILOBACTERIOSE
Enfermidade assim
denominada por ser causada por espécies do gênero Campilobacter fetus
subesp. venerealis, sendo também uma doença venérea,
exclusivamente de bovinos que não causa nenhum mal aos machos, mas inflamações
no trato genital feminino podendo levar até a infertilidade, passando por baixa
taxa de natalidade, endometrite, aborto entre o 4° e o 7° mês de gestação.
O desempenho
reprodutivo das fêmeas pode sugerir a presença da enfermidade, sendo que os
sinais clínicos se assemelham à tricomonose e de outras doenças infecciosas do
aparelho genital.
O tratamento em
bovinos é desaconselhável, pois os resultados são insatisfatórios e
antieconômicos, salvo em condições especiais, quando podem ser tratados com
estreptomicina. A principal medida é o uso de Inseminação Artificial como
tratamento de eleição
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Acessado em :18 do abril de 2012
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